Não era dia, nem noite
navegávamos num nenúfar
sem brisa, garoa ou neblina
num campo de águas rasas
turvas seriam não fossem teu semblante
ficaria assim eternamente
nesta vida que é sonho
sem horas, sem nomes, sem concreto
mesmo sem me tocar senti
que aquilo era a fuga de nossas almas
o encontro que por indecência desta vida ingrata
não passou de sugestão
minha e de minhas conjecturas
era você
e pela primeira vez soube
que eu era tua, nasci pra ser tua,
que antes de conhecer-te já guardava-me pra ti
nossas matérias próximas, não unidas
fez-me entender o poder da transcendência
finalmente
tua existência penetrou na minha
suguei teus medos, conflitos e fardos
e teus pecados preencheram meus vãos
sou tua, mais uma vez sou tua
tua foi o que nunca fui
tua foi aquilo que nunca cogitou
foi curto e infinito
para mim que assim o vejo
mas para ti aquilo fora um sonho
sem sentido, sem gracejo, sem forma
foi um daqueles de que nunca recordarás
em mim ficará guardado
e para saber o prazo
de nada adianta verificar meu verso.
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